Genérico

Eu era um Deus velho
dos tempos que não voltam.

O que eu vou esconder afinal
Se tudo que se guarda num baú
Não muda o fato de que ele
Ainda é um baú
E sabe disso?

Não importa a si o precioso
Conteúdo
Vai-se a jóia
Vem o ouro
Vai-se o ouro
Fica o baú.

E a jóia continua sendo jóia
O ouro não se desfaz de seu mistério dourado
Cada um ainda tem seu preço
Elevado.
O baú? Continua com sua tranca
E a ele não cabe o que
Guardam em si
Ou de si retiram.
A ele
Cabe ser.

Eu me pergunto
Se quando ninguém vê
Ele lamenta o fato
De não conhecer aquilo
De que ele está repleto
Ou se só ignora
O estar vazio
Ou cheio

Há final
Para isso?

Sudário

Velho, o tempo já nasce
Dobrando a esquina da vida
E é como se ele falasse,
Se contasse pra nós da ferida
Que é aberta pra ele fechar.

Vestido, o tempo já chega
Dá os primeiros passos no mundo
E assim, pela mão, nos carrega
E nos conta um segredo profundo
Dizendo que é pra não falar

Que o tempo já vem com saudade
Uma falta que é meio dormente
Que nem ele sabe se é verdade
E que a falta que o tempo mais sente
A que deixa seu corpo doente
É a de ser
só uma vez:

gente.